Inspeção estrutural para verificação da conformidade da execução da obra com o projeto
Em estruturas de betão armado, as motivações, dúvidas ou indícios, que levam à realização de inspeções e ensaios para verificação da conformidade do projeto com o edificado podem surgir ainda durante a fase de obra ou em plena fase de utilização. Durante a fase de obra os primeiros indícios podem ser varões de espera que não estão de acordo com o projeto ou o aparecimento precoce de fissuras com orientações, espessuras e dimensões pouco habituais. Por outro lado, durante uma ação de fiscalização poderá verificar-se que as armaduras não foram corretamente distribuídas. Este tipo de não conformidade, embora possa ser resolvida, pode surtir dúvidas quanto à conformidade, ou não, de outros elementos estruturais já betonados e que não tenham sido alvo de fiscalização.
Durante a fase de utilização dos edifícios os indícios de não conformidades podem surgir sob a forma de fissuras pouco habituais em elementos de betão, ou sob a forma de fissuras em alvenarias ou revestimentos, causadas por deformações excessivas da estrutura.
Em ambas as fases, poderão surgir dúvidas relativas à conformidade das armaduras, caso sejam detetadas não conformidades construtivas noutros elementos. São exemplo disso os erros de implantação de elementos estruturais, ou discrepâncias geométricas, em relação ao projetado.
Noutros casos ainda, poderão existir alterações de projeto não compatíveis com as telas finais, o que poderá gerar dúvidas em relação ao que foi realmente executado.
Neste artigo é realizada a análise de dois casos práticos de inspeções, que tiveram como objetivo verificar a conformidade da obra com o projeto de estruturas de betão armado (verificação de armaduras). Para cada um dos casos são apresentadas as motivações, as dúvidas e os indícios que provocaram a realização dos trabalhos, assim como os resultados obtidos.
Para a realização deste tipo de inspeção são aplicadas várias técnicas e ensaios, dos quais se destacam, nos casos deste artigo, a realização de ensaios de deteção de armaduras com recurso a pacómetro. Nos dois casos práticos apresentados o pacómetro utilizado foi um Hilti Ferroscan PS200, o qual permite, com recurso a software próprio, identificar a geometria e o recobrimento, quantificar o número de varões e estimar o diâmetro das armaduras dos vários elementos estruturais.
Os dois casos práticos apresentados são parte dos trabalhos realizados pela Spybuilding – Inspeção de Edifícios Lda. durante o presente ano. Um dos trabalhos foi realizado em Portugal e o outro no Brasil. Nos dois projetos, os autores do artigo estiveram diretamente envolvidos, quer no seu planeamento, quer na realização dos trabalhos de campo e na análise e interpretação de resultados.
Da experiência obtida através de inúmeros trabalhos deste tipo, em vigas, lajes, pilares, tabuleiros de pontes, muros de contenção e outros, poder-se-á concluir que é fundamental a utilização deste método de ensaio em casos de dúvidas sobre as armaduras ou recobrimentos existentes. Os resultados assim obtidos permitem o planeamento e dimensionamento de trabalhos de reforço, tendo como base um conhecimento aprofundado e preciso do existente.
Sendo um ensaio não destrutivo, é também possível realizá-lo em edifícios em fase de utilização, sem a necessidade de remoção de revestimentos.
Autores: Luís Viegas Mendonça, Eng. Civil, Spybuilding Lda.; Francisco Calhau, Eng. Civil, Spybuilding Lda.; André Trepado, Eng. Civil, Spybuilding Lda.
Sobre os autores:
LUÍS VIEGAS MENDONÇA
Presidente do Grupo Spybuilding.
Eng. civil sénior 18823 OE.
Certificação em Termografia por Infravermelhos Aplicada a Edifícios – Infrared Training Center, USA
Desde 1989, professor em licenciaturas, mestrados e pós-graduações em várias universidades portuguesas e instituições brasileiras.
15 artigos científicos publicados, 3 em publicação.
Livro Inspeção e Monitoramento de Edifícios com Estrutura em Concreto Armado em publicação (Brasil).
FRANCISCO CALHAU
Integrou o Grupo Spybuilding em novembro de 2013
Eng. Civil pelo Instituto Superior Técnico
Membro efetivo da OE 67938
Técnico Superior de Higiene e Segurança no Trabalho
Participou em vários trabalhos de inspeção estrutural em Portugal e no Brasil
ANDRÉ TREPADO
Integrou o Grupo Spybuilding em novembro de 2014
Eng. Civil pela Universidade Nova de Lisboa
Membro estagiário da OE
Participou em vários trabalhos de inspeção estrutural em Portugal e no Brasil
Coordenação de obra na empresa Contenção – Engenharia e Construção, Lda
Fonte: Excertos adaptados do artigo “Inspeção estrutural para verificação da conformidade da execução da obra com o projeto” via Spybuilding Lda. (http://www.spybuilding.com/)
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21 Outubro, 2015
Excelente artigo.
parabéns aos respectivos autores
21 Outubro, 2015
Muito interessante a descrição da aplicação do pacómetro aos casos específicos.
Dado o caráter tridimensional da disposição das armaduras e na maioria das vezes o difícil acesso a todas as faces do elemento estrutural, não é fácil, com o Ensaio Ferroscan, cometer erros grosseiros quanto à geometria do reforço? E como compensar essa falta ou imprecisão nos dados recolhidos?
cumprimentos
21 Outubro, 2015
De notar ainda que os espaçamentos das armaduras são muito críticos se não respeitarem os recobrimentos, dando origem a Não Conformidades e Acções Correctivas. Ambas trazem prejuízos não só a longo prazo, mas também eventual necessidade de reparações. Em Portugal trabalha-se muito mal a este nível. A implementação de QA/QC rigoroso em projectos de grande escala tem muito que se lhe diga no nosso país …
26 Outubro, 2015
Caros colegas,
Desde já o nosso obrigado pelo interesse demonstrado.
Relativamente ao carácter tridimensional da disposição das armaduras e à dificuldade de se ter acesso a todas as faces dos elementos, a forma de compensar a falta ou imprecisão nos dados recolhidos passa pela distribuição dos ensaios por vários elementos do mesmo tipo (igualmente armados), pela abertura pontual de janelas de verificação (escarificação do betão) e pela comparação dos resultados. No caso de serem detetados diâmetros superiores aos previstos deve-se sempre considerar a hipótese de se tratarem de agrupamentos de varões.
Relativamente a não conformidades relacionadas com espaçamentos irregulares e recobrimentos insuficientes, também deve ser sempre feita referência quando detetado que estas não estão de acordo com o projeto.
Também se fazem inspeções, ligadas mais à reabilitação de estruturas de betão armado, em que o principal objectivo é medir recobrimentos que, em conjunto com a medição da profundidade de carbonatação e determinação do teor em cloretos das camadas superficiáis, fornecem os dados necessário para o planeamento ou execução de ações de conservação e reabilitação.
Qualquer outra questão disponham.